terça-feira, 3 de julho de 2012

A palavra poética dos contadores de histórias - Gislayne Avelar Matos

     Os contadores de histórias são guardiões de tesouros feitos de palavras, que ensinam a compreender o mundo e a si mesmos. Eles semeiam sonhos e esperança. São carinhosamente chamados de "gente das maravilhas" pelos árabes.
     Eles contam histórias de príncipes e gênios do mal, animais encantados e heróis que passam por difíceis provações para merecer a princesa, de velhos sábios e de bruxas, de animais que falam e agem como os humanos.
     Coisas como essas são estranhas à nossa contemporaneidade - frenética, tecnológica, barulhenta e acesa a néon - , em que a necessidade é comunicar de forma cada vez mais rápida e sofisticada e o desejo pelo novo é insaciável.
     No entanto, a velha e boa palavra dos contadores de histórias não parece obsoleta. Eles sabem disso, sabem que o mundo vai e vem. Foram as próprias histórias que lhe ensinaram. Se há épocas em que os ouvidos e os corações se fecham para o mágico e o poético, outras, entretato, encontram o homem pronto a se encantar novamente.
     Talvez estejamos vivendo mais uma dessas épocas, o que explicaria o retorno dessa "gente das maravilhas".
     Sua grande tarefa tem sido, desde sempre, preservar um tipo de conhecimento armazenado em forma de histórias, que eles contam e continuam a contar enquanto houver ouvidos prontos a escutá-los. Assim, cuidam para que o bem maior dos seres humanos, a capacidade para se humanizar, não se perca.
     Nos últimos tempos, eles conquistaram um espaço significativo na cena urbana. Mas como consequência da horizontalização da palavra oral na sociedade contemporânea, concomitantemente uma enorme confusão se formou em torno de sua prática, e muitos outros artistas da palavra vieram se confundir com eles.
     Isso se evidencia sobretudo, por ocasião dos festivais de contadores de histórias, nos quais se inscrevem também o ator que interpreta o texto literário de um autor, o artista que desenvolve  uma performance teatralizada de um conto de tradição oral, o contador de causos, o contador de piadas.
     É premente, então, primeiro delinear os contornos da "palavra" do contador de histórias para verticalizá-la, de uma maneira que possa ser reconhecida como única.
     Insistimos no termo "delinear contornos" em oposição  a formular definições, classificar ou tipificar, termos que nos remetem a uma precisão e a uma clareza que não pretendemos encontrar nessa palavra.
     O contador de histórias Michel Hindenoch pondera:
    
Nosso mundo hoje tem um problema com a crença: ele quer saber tudo. É nessa medida que a arte me parece uma alternativa `a ciência: salutar, salvadora, fecunda, indispensável à nossa felicidade de estar no mundo, inteiros... (2001: 303-4).

     Cremos justas as palavras desse contador de histórias e nelas nos respaldamos para justificar essa opção de tratar a palavra do contador com uma certa "cerimônia', depreendendo dela o que nos é possível, mas sem tirar-lhe os véus a golpe de força reducionista, em prol da clareza científica.




Matos, Gislayne Avelar
A palavra do contador de histórias: sua dimensão educativa na contemporaneidade/ Gislayne Avelar Matos.-São Paulo: Martins Fontes, 2005.
    

Um comentário:

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