segunda-feira, 28 de maio de 2012

A arte de contar histórias - Ana Cristina Penov

Quando começei a contar histórias  muitas dúvidas apareceram.  Eu  precisava  de respostas porque sabia  não só da importância de narrar histórias na infância como sentia  necessidade de "preparo" para realizar essa função da melhor maneira possível. Ao contar histórias, eu via os olhos das crianças brilhando, sonhando, formando imagens,  num momento que chamo de encantamento. Esse encantamento não estava só nelas mas estava em mim também.. Era na verdade um encontro, uma relação especial, de afeto.  Durante a narração, cada expressão de prazer, de indignação, de alegria, de espanto  delas aumentava mais e mais minha vontade de continuar. 
 Isso me lembra Giuliano Tierno, quando diz no livro A Arte de Contar Histórias - abordagens poética, literária e performática:

O Contador de Histórias é aquele que cultiva a atenção e a delicadeza, que percebe seu corpo no espaço e o corpo do outro suspendendo o automatismo da ação. Mantém sempre abertos os olhos e os ouvidos.
O Contador de Histórias é aquele que fala sobre o que lhe acontece. Sabe que para cultivar a arte do encontro é preciso, além de calar muito e ter paciência, escutar aos outros.
A narrativa de uma história, portanto, pressupõe a criação de uma relação de encontro. Encontro definido aqui como espaço metafórico em que narrador e ouvinte habitam ao mesmo tempo. Não é o lugar do narrador, não é o lugar do ouvinte. É um terceiro lugar, um lugar ainda vazio, que será habitado pela primeira vez, por ambos, no instante presente da história narrada.

E lembra também um texto, lindo e tocante do Jorge Larrosa Bondia apresentado no curso de Pós, também por Giuliano Tierno:

A experiência, a possibilidade de que algo nos aconteça ou nos toque, requer um gesto de interrupção, um gesto que é quase impossível nos tempos que correm: requer parar para pensar, parar para olhar, parar para escutar, pensar mais devagar, olhar mais devagar e escutar mais devagar, demorar-se aos detalhes, suspender a opinião, suspender o juízo, suspender a vontade, suspender o automatismo da ação, cultivar a atenção e a delicadeza, abrir os olhos e os ouvidos, falar sobre o que nos acontece, aprender a lentidão, escutar aos outros, cultivar a arte do encontro, calar muito, ter paciência e dar-se tempo e espaço.(LARROSA, 2003).

Espero que os textos de hoje façam para todos um momento de reflexão sobre a arte da narrativa oral.
Abraço.
                                         Ana \Cristina

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